Na madrugada do dia 19 de Setembro, em Vitória, ocorreu uma ação violenta contra estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), que mantinham o acampamento do movimento "Minha Ufes Minha Casa" reivindicando moradia estudantil digna, na defesa de um projeto de universidade diferente.
Recebemos dos companheiros do movimento a seguinte carta, que divulgamos a todos.
Este é mais um dentre tantos recentes episódios de repressão aos que lutam. Repudiamos a ação violenta da reitoria da UFES e oferecemos todo nosso apoio à luta dos estudantes.
Acesse também link de jornal local
com notícia e vídeo do dia da desocupação.
Como leitura complementar ao tema, indicamos o texto
"A repressão policial e a democracia brasileira andam juntas", que faz parte da campanha de denúncia anti-capitalista da repressão, do Espaço Socialista.
Boas leituras!
AO ESPAÇO SOCIALISTA
APRESENTAÇÃO DO “MINHA UFES, MNHA
CASA”
O “Minha UFES, Minha Casa” é um
movimento que luta por um novo projeto de universidade pública, verdadeiramente
popular e de qualidade. Para tal, cremos
ser preciso que os filhos dos trabalhadores e os próprios trabalhadores possam
ingressar, permanecer e ter acesso a todos os espaços e instâncias da
universidade. Neste cenário, o movimento retorna à pauta histórica da moradia
estudantil por considerar ser esta um fator de fundamental relevância na
democratização plena do acesso ao ensino superior. A moradia estudantil na UFES
é uma reivindicação antiga, que inclusive por diversas vezes foi utilizada por
candidatos à reitoria com o fim único de eleger-se.
No dia 1 de agosto de 2012 surge
o “Minha UFES, Minha Casa”. Um grupo de estudantes componentes do Comando Local
de Greve Estudantil decide acampar no campus de Goiabeiras, em Vitória, em protesto contra a falta de moradia
estudantil e para fazer pressão em prol da execução imediata do projeto de
moradia que existe desde 2010, ano do último movimento por moradia organizado
na UFES. O local escolhido para montar acampamento foi o gramado da portaria
norte da UFES, bem em frente à Av. Fernando Ferrari. Neste espaço, com o apoio
do SINTUFES, principal apoiador do movimento, foram montadas, além das
barracas, uma tenda que era local de encontro e reunião de estudantes e técnico-administrativos.
Neste mesmo local, várias atividades foram desenvolvidas, como grupos de
debate, cinema e oficinas. Mas, pelas dificuldades inerentes ao próprio local,
como vento excessivo que quebrava barracas, falta de banheiro e água nas
proximidades, exposição à chuva, dentre outros, o acampamento, no seu 36°
dia, mudou-se para o vão externo da Biblioteca Central.
Uma estrutura de barracas, sala e
cozinha foi montada e as atividades continuaram a ser desenvolvidas. Apresentação
de filmes, debates e uma aula-debate com o Prof. Dr. Paulo Scarim, do
Departamento de Geografia, que dividiu com os presentes sua experiência de luta
por moradia estudantil na Universidade Estadual Paulista (UNESP). Após
duas semanas de ocupação do vão da biblioteca, às 14:20h do dia 16 de setembro
de 2012, alegando risco iminente ao patrimônio da Universidade e acervo da
Biblioteca Central, uma reintegração de posse do vão da biblioteca foi
executado, inclusive com a presença arbitrária da polícia militar. Sem qualquer
resistência à ordem judicial, o grupo desmontou o acampamento e retirou-se do
local.
Na terça-feira, dia 18 de
setembro de 2012, o grupo decidiu por mudar mais uma vez. O local escolhido foi
um espaço do anexo do CCHN (Centro de Ciências Humanas e Naturais). A ocupação
do local foi acompanhada pelas guardas federal e patrimonial atuantes na
universidade e todo o possível foi feito para que o acampamento não
atrapalhasse o fluxo das pessoas nem o funcionamento normal dos setores
próximos. Deve-se também destacar que todo o processo de ocupação ocorreu sob o
protesto do Sr. Aníval Luis dos Santos, chefe de segurança da UFES e do Prof.
Dr. Júlio Bentivoglio, vice-diretor do CCHN. Na noite do mesmo dia, às 23:30 h,
quando o campus estava fechado e ninguém mais além dos ocupantes estavam
presentes, o Sr. Aníval abordou o grupo acompanhado de três guardas
patrimoniais afirmando que tinha um mandado de reintegração de posse e que este
era urgente. Questionado sobre onde estava o documento, o mesmo afirma que não
há a necessidade, pois ele próprio era o mandado. Foi então solicitado que se
esperasse ligar para as representações da reitoria em diálogo com o movimento,
mas antes que fosse possível realizar a ligação, o Sr. Aníval chamou, com um
assovio e um aceno, um grupo de mais de vinte homens com o uniforme da PLANTÃO,
que é a empresa terceirizada responsável pela segurança patrimonial da
universidade. Munidos de cacetetes, tacos de baseboll, armas de fogo, faca,
canivetes e fogos de artifício, os seguranças rasgaram as barracas e, usando cassetete
e tacos, quebraram todas as barracas com todos os pertences dos estudantes
ocupantes (como computador, celular, roupas, livros, documentos pessoais,
dinheiro...). À base de chutes, socos, armas encostadas na cabeça, cacetadas e
violência verbal, os estudantes foram expulsos do campus, numa clara tentativa
de minar o movimento a qualquer preço. Interessante destacar que durante toda a
ação criminosa o Sr. Aníval Luis dos Santos esteve presente, acompanhando
passivamente toda a violência que ocorria na universidade. Dois dias após a
expulsão doa alunos ocupantes, um professor denunciou ao movimento que um grupo
de docentes e funcionários da ultra-direita da universidade está se articulando
para conseguir, ou se necessário criar, provas para criminalizar os integrantes
do movimento.
O movimento “MINHA UFES, MINHA
CASA” entende que ação criminosa e facista do Reitor, Prof. Dr. Reinaldo
Centoducati, é a coadunação e a perpetuação do modelo falido, perverso e
excludente de ensino superior feito no Brasil. Modelo que é, em sua essência,
reflexo da sociedade brasileira e capixaba. Este movimento se propõe a
posiciona-se diante da pauta moradia estudantil com uma postura firme e afirma,
pelo fervor da vontade de nossos espíritos ser o último movimento por moradia
desta universidade. Quanto à organização do grupo, o movimento se pauta nos
ideais revolucionários libertários em suas metodologias e planos de ação,
sempre se pautando no diálogo e na democracia da voz. Já houve avanços nesses
53 dias de ocupação no campo da negociação. Sucessivas reuniões com a vice-reitora,
Profª.
Drª.
Maria Aparecida Barreto, com o chefe do gabinete do Reitor, Sr. Renato Schwab e
com a Pró-Reitora de Gestão de Pessoas e Assistência Estudantil, Srª
Lúcia Cassati resultaram em avanços na discussão da pauta no sentido de se
definir e avaliar cada possibilidade para solucionar o problema da falta de
moradia estudantil. Alguns documentos sobre a estrutura de prédios da
universidade estão sendo liberados. No momento as discussões continuam, mas os
avanços reais na pauta ainda estão muito aquém do desejado. O movimento lamenta
a falta de vontade política e o completo
desinteresse de nossos gestores para com relação às demandas dos estudantes. A
morosidade e a má vontade por parte da reitoria durante o processo de
negociação foram o único responsável por toda a violência sofrida pelos
estudantes violentados. No momento as
atividades do acampamento estão se concentrando no trabalho de base, com o
levantamento da discussão e o convite dos alunos que necessitam de moradia
venham nos apoiar e efetivamente morar conosco, em nossa residência. O
movimento “MINHA UFES, MINHA CASA” entende o desafio que está por vir. Mas
reitera sua obstinação de cumprir o que colocou como meta principal que é ser o
último movimento por moradia de nossa tão querida universidade.
Movimento Minha Ufes,
Minha Casa
Vitória, Setembro de 2012